janeiro 10, 2011

MITOS E VERDADE SOBRE TERAPIA HORMONAL


Dra. Eliana Aguiar Petri Nahas
Terapia de reposição hormonal após a menopausa traz riscos à saúde? A maioria das pacientes que chega ao consultório da ginecologista Eliana Aguiar Petri Nahas, professora-doutora do Departamento de Ginecologia-Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Botucatu-Unesp (Universidade Estadual Paulista), apresenta dúvidas como essa. Mas as crenças relacionadas ao tratamento condizem com a realidade? O que é mito e o que é verdade no assunto? Em entrevista, a especialista nos ajuda a esclarecer esses e outros pontos importantes.

Quais são os principais temores e dúvidas das pacientes sobre terapia hormonal? Há muitas crenças que carecem de comprovação científica?

Em geral, as pacientes questionam a necessidade da terapia hormonal. Uma crença é a de que a terapia hormonal engorda. Isso não acontece. Algumas podem até ter uma pequena retenção de líquido com o uso da terapia hormonal, mas ninguém ganha dez quilos tomando hormônio. As pessoas engordam porque estão envelhecendo, porque não fazem atividade física, comem muito. É isso que eu tento explicar às pacientes.

Dada a sua experiência, qual o grau de informação das mulheres sobre terapia hormonal?

Depende do nível de conhecimento da paciente. Acontece muito de elas verem que a vizinha está tomando determinada medicação e quererem tomar a mesma. Aí tem que explicar o que é melhor, porque há vários tipos de terapia hormonal. A cada um deles, a mulher responde de um jeito. Elas temem também a questão do sangramento. Quase 50% podem apresentar esse sintoma no início do procedimento. A gente precisa orientá-las a persistir no tratamento, porque esse sinal desaparece.

Quais os equívocos mais cometidos pelas mulheres no assunto? Quais seriam as causas?


Elas questionam mais o ganho de peso e o câncer de mama. Elas temem infarto também, e isso é algo que não acontece. Muitas associam os hormônios à pílula anticoncepcional. Se tiveram uma experiência ruim (com a pílula), acham que não vão se dar bem com a terapia de reposição. Nós tentamos orientá-las de que são hormônios completamente diferentes.

Quais os principais avanços que ocorreram na área de reposição hormonal?

Um dos principais avanços foi a publicação do estudo WHI (sigla em inglês para Iniciativa de Saúde da Mulher), que mostrou que a terapia hormonal protege a massa óssea, é efetiva no alívio dos sintomas do climatério e na preservação do trofismo urogenital, que é a lubrificação vaginal. Outros grandes avanços que ocorreram foram a descoberta de novos tipos de progestágenos usados na terapia, que têm menos efeitos colaterais, como retenção de líquido, mastalgia (dor na mama) e cefaleia (dor de cabeça). As doses de estrogênio também foram diminuindo. É cada vez menor a dose hormonal que utilizamos para o tratamento, mantendo o benefício e reduzindo efeitos colaterais.

Que tipo de recomendação é feito às pacientes que pretendem iniciar a terapia hormonal?

É importante passar por um ginecologista, e não ir tomando qualquer hormônio, sem exame prévio. Antes de iniciar o tratamento, ela precisa passar por uma série de exames, ver como está o perfil lipídico, a taxa de glicemia. Fazer mamografia é importantíssimo, assim como um ultrassom transvaginal. Depois, a gente introduz a terapia hormonal. Esses cuidados são muito importantes.

Quanto tempo, em média, dura uma terapia de reposição hormonal? Em quais casos demora mais para surtir efeito?

O tempo de uso varia de paciente para paciente. Depende de com quantos anos ela iniciou a terapia. Há mulheres que param de menstruar com 40, 42 anos, na chamada menopausa precoce. Essas vão usar por muitos anos. Normalmente, o tempo da terapia hormonal está relacionado ao sentir-se bem. Se os exames derem bons resultados, mantemos. Normalmente, elas fazem uso da terapia por um tempo, e, à medida que melhoram, param por conta própria.

Há alguma contraindicação que pode interferir no tratamento?

Após a mamografia, é verificado se há alguma coisa, ou uma lesão suspeita, ou um câncer de mama mesmo. E isso é uma contraindicação ao uso da terapia hormonal. Pacientes que têm doença cardiovascular também. Isso envolve mulheres que tiveram angina, trombose, infarto ou possuem doença coronariana.

Alimentos podem contribuir para um melhor resultado da terapia de reposição hormonal? Em caso afirmativo, quais são eles?

Não há nada específico para a terapia. Na verdade, seria a alimentação que todos nós deveríamos adotar: dieta pobre em gordura, rica em proteína, com pouca caloria. O que recomendamos nessa faixa etária (de mulheres na menopausa) é a dieta rica em cálcio, que é um tipo de proteção da massa óssea. Isso vai ajudar o uso do estrogênio a proteger a massa óssea. Uma dieta hipogordurosa (com pouca gordura) e rica em cálcio.

Qual a importância de exercícios físicos e bem-estar emocional durante o tratamento? Esses fatores podem influenciar positivamente na reposição?

Sempre orientamos a prática de atividade física. Porque sabemos que isso ajuda no controle do peso, na parte cardiovascular. Então, o que mais orientamos é a caminhada, pela praticidade. Mudar o estilo de vida, a atividade física, adotar uma dieta mais balanceada e parar de fumar são coisas que, independentemente do uso ou não da terapia hormonal, são importantes à mulher nesse processo de envelhecimento. É uma época difícil para ela, que pode desenvolver um quadro depressivo, com alterações de humor. Sabemos que é um período de vida em que elas têm uma labilidade (instabilidade) emocional maior.

Há outras recomendações específicas sobre o assunto?


A mulher precisa sair de casa ou conversar com outras pessoas na mesma situação. Isso também é importante. A terapia hormonal, para as mulheres sintomáticas na menopausa, vai ser um grande avanço sobre a qualidade de vida delas.

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